sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

365 Days Writing: Três outras Histórias

365 DAYS WRITING, 12º DIA - Compartilhe 3 histórias de outro escritor



Escritora: Katharynny Gabriella       História: Desafio 365, dia 8
Link: https://myrefuge-katharynny.blogspot.com.br/2018/01/desafio-365-dia-8.html

No conto feito para o desafio dos 365 dias, somos jogados na vida de Kiara, uma jovem de personalidade sarcástica, mas que parece sofrer por uma relação amorosa destruída pela distância. Conforme a história se desenrola, você percebe que as coisas não são bem assim. 




Escritor: Maquiavélico                     História: O Psicopata de Washington
Link: https://aminoapps.com/c/terroramino_pt/page/blog/o-psicopata-de-washington/Z6DB_W0EHBugoLW20ZeXoBxPreJxxLJv5qk

Na história de suspense/terror, um detetive está empenhado a encontrar e fazer com que o mais novo serial killer da cidade pague por seus crimes. O que ele não esperava eram as surpresas que o caso lhe traria.


Escritor: Katharynny Gabriella        História: Olhos Vazios
Link: https://www.wattpad.com/story/103420585-olhos-vazios

Esta já é uma história mais comprida - um livro, não um conto -, mas vale a pena cada capítulo. Aqui vamos conhecer a história de Li Ka Hua, a filha de um chinês com uma americana que é herdeira de uma companhia de hotéis. Não só isso, ela também tem um segredo: algo em seus olhos, que pode ameaçar a vida da pessoa que mais ama.

Sinopse Original: "Li Ka Hua esconde um segredo mortal. Filha do herdeiro de uma das mulheres mais poderosas da China, tudo que ela queria era sobreviver aos dois anos finais do ensino médio e poder levar uma vida segura pelo resto dos seus dias. Porém, seu jeito introvertido acaba chamando a atenção de Aidan Berkshire, um dos herdeiros mais cobiçados dos EUA. O fato de ela nunca olhar nos olhos de ninguém, o fato de receber tratamento especial e, sobretudo, o mistério que cerca Li Ka Hua, fascina Aidan. Porém, o segredo que se esconde atrás dos olhos cinzentos dela pode pôr em risco a sua vida e a vida de todos que ele ama.
Será o amor capaz de superar a morte? 
Não olhe nos olhos dela... se quiser viver. 
Baseado em uma lenda japonesa, Olhos Vazios é uma trama cheia de romance, um pouco de cultura chinesa/japonesa, poesia, sacrifício e a descoberta do que é, de verdade, a vida." 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

365 days writing: You're Gone / Partida

365 DAYS WRITING #8 DIA: UMA HISTÓRIA/CONTO EM SEGUNDA PESSOA

                                                         You're Gone / Partida

  Você deve estar um pouco nervoso agora, mas não, isto não é um sonho. Eu quero te contar algumas coisas, coisas reais, tão reais que doíam, doeram, mas com esforço já não me doem mais. Me diga primeiro, meu amor: você se lembra de mim? De todos meus detalhes, de todas as formas com a qual te olhei, com todos os sinais que te dei? Por favor, apenas me responda em sua mente: o que exatamente você está sentindo agora? Raiva? Tristeza? Medo? Felicidade?

  Você foi meu primeiro amor, você sabe. Nos conhecemos tão jovens que mal tive como conhecer outros amores! Você ocupava meu tempo, minha mente, até mesmo o tempo que deveria ser meu sozinha. Você me sufocava, mas eu gostava, pois sentia que devia estar feliz, quero dizer, nós éramos felizes, não?

  Éramos melhores amigos. Eu me lembro de nós sendo melhores amigos, pelo menos. De eu cantando músicas para você no violão, te ensinando a dançar, te mostrando que não era tão ruim assim se soltar com os outros e fazer novos amigos. Eu lembro das nossas risadas, das nossas piadas e de noites acordada apenas para falar com você. Mas me lembro das coisas ruins, também. Você também se lembra do dia em que me mostrou o vídeo de uma mulher se esfaqueando? De um homem sendo executado? Bem, eu sorri para eles, eu sorri para você sorrir. Mas eu odiei. Eles perturbam algum canto profundo de minha mente, mesmo agora. Você se lembra quando disse que não conseguiria viver sem mim, quando disse que já havia pensado em inúmeras formas de se matar? Eu tive medo. Medo por mim, medo por você. Você tiraria a própria vida se eu o deixasse? Você ainda está vivo, não está? Me diga: você tiraria a minha vida por você?

  A minha vida era sua. Tirar ou não, isto não era uma opção: a todo segundo eu estava com você. Eu respirava você, eu olhava você, eu ouvia você. Eu sonhava por nós, vivia por nós. De manhã ao acordar, de tarde e desde a noite até a parte mais escura da madrugada, eu estava ali conversando com você, mesmo quando haviam outras coisas que exigiam minha atenção. E quando por um momento apenas eu me virava para atender outra pessoa, você reclamava minha atenção e ficava sem falar comigo por algum tempo. Dizia que doía quando meus cinco minutos de demora o faziam sentir solitário – quando nem mesmo eu te dava atenção. Quando isso acontecia, doía em mim as horas que você passava me ignorando e tratando com grosseria.

  Eu acredito que tinha uma possibilidade de vida, no fim. Eu fazia teatro, tirava boas notas, tinha amigos. Você não gostava deles, não é? Dizia que eu perdia tempo no teatro, que as pessoas que estavam ali eram falsas e vazias por dentro e que iriam me contaminar – você as julgava por serem populares de mais. Eu sempre respondia com uma pergunta: o que você pensaria de mim, caso não me conhecesse a tempo? Eu seria vazia também? Eu nunca te disse, mas há mais para se ver em uma pessoa além da popularidade. Todos temos algo para esconder nos olhos, lá no fundo, naquele brilho quase imperceptível. Eu nunca encontrei o que você escondia.

  Você se lembra do dia em que toquei Os Incríveis enquanto esperava começar minhas aulas de teatro? Lembra-se como cantei para você ou ao menos da conversa que tivemos?

- Não era belo, mas mesmo assim... Havia mil garotas sim! Cantava Help and Ticket to Ride-- O que foi?

  Você estava tão distante aquele dia. Não me olhava cantar como antes, não sorria. Eu tinha meus problemas também. Havia brigado com minha melhor amiga e estava com problemas com um cara idiota da sala. Eu estava destruída por dentro, me sentia enganada, havia sido magoada pelas pessoas que gostava e estava psicologicamente exausta. Mas eu estava lá para você, eu era forte por você. Você sabia de tudo isso, eu te contava tudo por mensagens enquanto não nos víamos. Você sabia o quanto eu precisava de você.

- Nada, continua...

- Ei, fala comigo. Está tudo bem? - eu larguei o violão para você, por você, e te abracei do jeito que você gostava que eu fizesse.

- Estou bem. É só que... Ah, não sei. As vezes as coisas parecem não fazer tanto sentido. Essas brigas suas, minhas relações lá em casa... O ser humano é terrível, Ana. Nós só pensamos em nós mesmos. Estamos aqui para que, afinal? Isso me machuca, de certa forma... As pessoas pregam amor, mas não olham pelo outro.

- Por isso temos que fazer a diferença – sorri. Você balançou a cabeça.

- Eu sou horrível, Ann. Eu... Eu não sei, eu vejo as coisas e não consigo sentir nada, entende? Eu não sei se você entende... Você sente tanto.

- Você sente, sim. Ou não me ama? Você precisa ver mais as coisas da vida, se desprender desse monte de morte que fica vendo no celular – resmunguei. Um som, o sino do colégio avisando o começo das aulas – Eu preciso ir.

- Vamos sair, uma falta não faz diferença. É só teatro, Annie – você pegou minha mão, fazendo a cara que eu temia que fizesse. Mas eu não podia faltar, não no dia de ensaio, então disse não. Quando cheguei em casa havia uma mensagem longa no celular. Você não falou comigo o resto do dia. Você me culpou de não ligar para os seus sentimentos.

  Eu sabia que você fez isso para ficar sozinho. Era tudo para poder pensar, sim, você gostava disso. Mas eu realmente precisava de você aquele dia, e chorei sozinha. Te mandei tantas mensagens! Te culpei de não me dar atenção, de não corresponder ao meu esforço. Você disse que eu era egoísta.

  Eu te odiei um pouquinho, sabe? Por você ser do jeito que é, tão pessimista, tão para baixo. Por você me colocar para baixo. Minhas respostas não foram as melhores, eu sei, mas as suas também não. E a gente terminou assim, por mensagem de texto. Aquela noite eu dormi chorando e chorei na escola, escondida, e na saída, quando esperei você aparecer e se desculpar. Mas você não apareceu. Dias depois você me mandou mensagem, dizendo que não podíamos terminar daquele jeito, que eu era diferente das outras e que me amava. Me diga: você me amou realmente ou era tudo uma mentira para te confortar, para tornar as coisas melhores? Você estava vivendo sozinho um conto de fadas de almas puras e solitárias, ou algum desses clichês góticos? Eu queria te perdoar, mas eu tinha medo e todos me diziam que você era louco. Eu achei que você fosse louco. Eu te disse que você era louco.

  Você disse que devia me matar, depois que era brincadeira. Eu tive medo por todo o caminho de casa até o colégio por uma semana, eu revia mentalmente os videos terríveis que você me mostrava. Você ia me matar? Você poderia me matar, você poderia me ameaçar daquela forma? Eu te amava, eu sabia que a resposta era não – você nunca me faria mais mal do que já havia feito.

  Você destruía minha positividade com suas reflexões. O que eu era? Céus! Qual era o sentido da vida para mim? Eu não tinha perspectiva do meu futuro, não. Quando eu percebi, havia sonhado uma vida para nós, mas nunca havia notado o quanto você me fazia mal. Sim, eu te culpo. Você podia ter percebido antes o quanto eu precisava de mais que videos terríveis, mais que dramas e acusações.

  Você me chamou novamente, mais um pedido de desculpas. Eu aceitei e corri para seus braços, mas você já não era você. O rosto era diferente, estranho, e eu não conseguia te beijar como beijava antes. Meus abraços eram frios. Os sorrisos e palavras, da boca para fora. Eu estava atuando no seu conto de fadas, tentando fazer aquilo parecer certo, mas não era. Você parecia mais cuidadoso: não pegava no meu pé para ficar contigo, não me privava de nada, mas ainda repreendia minhas demoras. Havia uma parede entre nós, mas estávamos tentando – e eu não estava conseguindo.

  Eu não conseguia porque eu já não suportava nem mesmo minha verdade, quanto mais a mentira que existia entre nós. As coisas estavam piorando para mim, você sabe. Eu descobri que meus sonhos eram uma mentira, que eu não era o que devia ser. Eu estava cansada de estar lá apenas por estar – de ouvir palavras vazias e falar apenas o que os outros queriam ouvir. Cansada de não atender as expectativas dos meus pais, nem as suas e nem as minhas.

  Gostaria de saber se alguém viu o pedido de socorro nos meus olhos, se alguém sequer pensou em me ajudar. Você o viu – eu sei que viu. Me perguntou baixinho o que tinha acontecido e eu não quis te preocupar, então você riu e disse que era melhor eu parar de graça porque estava estranha. Foi então que comecei a ir na cobertura do trabalho, quando não havia mais nenhum fumante para me perturbar com suas conversas fiadas. Eu olhava o mundo lá embaixo – eu sentia meu corpo, finalmente, apesar de já não sentir minha mente. Você alguma fez quis sentir minha mente, sob toda a pele que eu lhe ofereci?

  Mas eu nunca pulava, eu não tinha coragem. Eu sabia que, se um dia morresse, teria sido pelas mãos de alguém. Eu não vou ser hipócrita em dizer que não quero acusar ninguém aqui, pois desejo apontar cada um de meus assassinos. Quero dizer de quem foi a mão que me empurrou para o abismo da morte.

  Haviam poucas mãos femininas. Eu podia ver os esmaltes, tão diferentes, eles me sufocavam. Era algo que eu era – mas eu não era! Aquela era a minha mão? Eu posso jurar que minha mão estava ali, você acreditaria? Mas havia também as mãos de Ana, Beatriz, Karol e mais tantas outras com quem meu caminho cruzou. Amigas, mas que não me seguraram forte o bastante. Amigas que me lembravam o que eu tinha que ser, mas que já estava muito fora da linha para alcançar.

  Também haviam ali algumas mãos masculinas, algumas fortes, algumas nem tanto. Mãos que lembravam risadas, mas também momentos duros e solitários. Havia a mão de Carlos, a de Marcos e a de Gabriel, assim como a de meu pai e irmão. Havia a mão do meu chefe e a de cada pessoa boa ou ruim com quem eu interagira na faculdade. Haviam mãos que eu invejava, outras que eu temia. E havia a sua mão. Eu lembro da sua mão, como se ela realmente estivesse ali... mas ela estava, não estava? Diferente das outras, sua mão era quente e real. E havia um braço também, e um ombro, um pescoço e uma cabeça. E um sorriso que mesmo em minha pós-vida não pretendo esquecer. Era um sorriso diferente, como de "eu avisei", como se você estivesse prevendo durante todo este tempo. Como se tivesse ganhado uma aposta. E eu odiei aquele sorriso, céus, como o odiei!

  Eu me lembrei de todo o mal que havia me feito e, naquele momento, todo o bem que vivemos havia sumido. Você era um sanguessuga, uma maldita criatura enviada para me findar a vida. Seu negativismo me abalava e você parecia sequer se importar com o que havia por dentro, por trás de palavras rebuscadas que te agradavam. Saiba agora que há lagrimas sob a poesia, há um coração por trás do poeta e sangue ao redor da musa.

  Eu lutei contra sua mão. Lutei contra você, bati em você, senti você. Eu corri, finalmente deixando para trás tudo aquilo, toda a loucura na qual você havia me jogado. Eu te usei para me levantar enfim, e lhe cuspirei a face quando nos revermos. Você já havia matado minha inocência, já havia matado minha bondade e felicidade, não deixaria levar minha alma.

  Quero que saiba que não te contatei por todo esse tempo porque, apesar de todo o ódio e rancor que o viciado tenha, aquela ainda é sua droga. Sei que você tentaria me reconquistar com sua voz gentil, com seus toques. Por isso, não coloco endereço, não coloco contato. Quero que saiba que sai do abismo onde havia me jogado. Quero que veja, nas fotos junto a carta, o brilho de um sorriso que você quase apagou.

  Eu consegui um emprego em outra cidade e estou morando com parentes, mas em breve vou me mudar novamente. Estou há poucos meses de me formar, aliás. Não vou dizer no que, você não gostaria de qualquer forma. Queria terminar esta carta de uma forma podre, baixa, porém não vou abaixar tanto o nível das nossas lembranças. Eu consegui, eu te superei, eu te venci.

Com amor de sua primeira namorada,

Analiese Butcher.




365 days writing: Bad Lovers

365 DAYS WRITING: #3 DIA - UMA HISTÓRIA/CONTO SEM NENHUM DIÁLOGO

                                                                 Bad Lovers

  Era plena quinta-feira e a garota de cabelos negros curtos já se encontrava em lamentável situação, sozinha em uma mesa de bar. Não estava deplorável, no entanto: bem arrumada, perfumada e com uma última gota de orgulho no peito que a impedia de chorar desesperada, havia escolhido o bar mais caro para afogar o rancor, a tristeza – o ódio? – e seja lá o que tivesse dentro de si. Ela combinava com o lugar, também. Os brincos dourados deixavam claro que ela não era uma estranha para aqueles preços extravagantes.

  Pediu uma cerveja preta assim que sentou. Do lado de sua mesa, uma cantora mirim berrava alguma música do Arctic Monkeys, o que abafava o som dos copos e conversas ao redor e fazia seu ouvido reclamar. Mal conseguia ouvir os próprios pensamentos. A verdade é que estava ali para se torturar, culpando-se por não ter conseguido coragem suficiente para ter chamado o cara de quem gostava para sair. Não por falta de coragem, mas por falta de tempo: quando finalmente havia decidido o que fazer, não chegou a tempo de encontrar o sujeito na sala de aula. Não haviam números, não haviam e-mails. Nem um endereço para enviar uma carta! Isso era frustante.

  O gosto da cerveja descia sem aquele gosto bom do qual se lembrava, mas seguia copo atrás de copo até finalmente pedir a segunda garrafa. Foi aí que um sujeito alto e com um sorriso irritante apareceu, tomando o lugar vago na mesa e se candidatando a ser a boa companhia da noite. Que fosse! Pelo menos poderia desabafar, afinal. Quando notou estava na terceira garrafa, dividindo com o tal de Arlindo, mas que podia chamar de Lindo porque o Ar havia perdido. Na verdade o nome dele era Lúcio, como descobriu depois, e apesar de cantadas limitadas ele tinha um bom papo. Era preciso gritar para conseguirem ouvir um ao outro acima dos urros da cantora, mas valia o esforço: falaram sobre tudo, mesmo o que não tinha para falar. Aliens, música, cerveja, histórias de escola, sonhos. Ela desabafou e toda aquele drama trágico da garota foi tão estranho para ele que, no fim, ambos riram. Então decidiram ir para um lugar onde pudessem ouvir os próprios pensamentos, ou o que restava deles. Ela realmente não sabia quantas cervejas mais havia tomado, mas ao menos conseguia andar sem tropeçar. Veria no extrato do cartão depois, se tivesse coragem.

  Sentaram na sarjeta depois de perceberem que não tinham realmente um lugar para ir. Apenas ficaram lá, sorrindo, até ela pegar o próprio celular e mandar a primeira mensagem: o pedido de um número de telefone. Sorriu com a desculpa que conseguiu criar, apesar do álcool, e guardou novamente o telefone. Lúcio queria comprar mais bebida.

  Foram na lojinha mais próxima e compraram uma garrafa de vodka. Ela tomou apenas um gole para fazer careta e reafirmar o quanto não gostava daquilo. Quando Lúcio já havia deixado a garrafa na metade, usou o número que havia recebido por mensagem para chamar o tal sujeito que a levara até ali. Ia chamar ele para sair! Enquanto esperava a resposta foi até a loja de bebidas mais uma vez e comprou duas cervejas como desculpa para poder usar o banheiro em paz. Céus, dessa vez ela realmente estava contrastando com aquilo tudo. Os brincos ainda brilhavam, apesar de não ter mais tanto batom nos lábios quanto tinha ao chegar. Mas ela já se sentia parte daquilo, como se pudesse sentir a si mesma vibrando felicidade novamente, sentindo-se rejuvenescer naquela noite tão errada e ao mesmo tempo tão certa. Não havia tristeza, havia adrenalina! Ainda conseguia rir da última piada feita, minutos atrás, assim como conseguiria rir da primeira da noite caso se lembrasse dela!

  Sairam dali e foram para uma praça onde haviam outros jovens. Ainda falavam sobre tudo e ela ainda desabafava sobre o outro. Falavam sobre eles, também. Era engraçado como haviam ficado tão íntimos. Quando ela terminava a primeira garrafa, um homem robusto se aproximou e ofereceu alguma coisa que ela não ouviu bem - o ouvido ainda reproduzia ruídos da voz da mulher do bar. Era um saquinho plastico pequeno com algo verde dentro. Lúcio pagou cinco reais e enfiou o negócio no bolso da calça, continuando o que quer que falassem como se não fosse nada. Bem, ela não sabia se era alguma coisa. Foi só quando mais alguma hora se passou e ouviram uma sirene de algum lugar próximo que ela pensou na possibilidade daquilo dar algum problema e, naquele momento, Lúcio já tirava o pacote do bolso com certo desespero e entregava a ela.

  Estava tudo bastante perfeito até ali e era até deprimente a forma idiota como o outro estragou. Na verdade, ele estava ajudando ela a falar com o sujeito! De uma forma meio bêbada e tropeçada, eles conseguiam bolar umas respostas bacanas. Ela não tinha tido coragem para chamar ele para sair, mais uma vez, mas então ele havia tomado o celular de sua mão e enviado a mensagem curta e direta: 'topa beber depois no dia?'. Não era uma oração perfeita, haviam formas mais bonitas para ter chamado, mas para um bom entendedor estava compreensível.

  Quando a sirene apitou, tudo foi para algum lugar. A mão dele para o bolso, os olhos dela para o vazio do raciocínio que finalmente retomara como em uma piscada e se apagara novamente. Eles deram aquele olhar de "estamos ferrados, né?" e ele jogou o saco plástico no meio da moita atrás de si da forma mais discreta possível enquanto os policiais desciam da viatura e se aproximavam. Nada na revista. Pararam de perguntar tudo quando notaram a embriaguez, as respostas vagas e palavras tropeçadas, os risos sem sentido. Eles iam sair bem, sério. Até um dos policiais verem um brilho diferente no meio do mato, perto do banco onde os jovens estavam.

  Ela não falou nada, nem estava entendendo a situação, para falar a verdade. Não era com ela. Os policiais também não pareceram se importar em suspeitar apenas de Lúcio como dono daquilo e liberaram ela. Ela queria acreditar que Lúcio estava tão ocupado tentando inventar desculpas e alibis para os policiais que nem se lembrou de se despedir enquanto era levado para o carro, rumo à delegacia. A verdade era que ele não exatamente o que estava fazendo. Sabia que estava desesperado, então devia agir de forma desesperada, certo? Não havia se lembrado mesmo de se despedir da garota, ou ao menos de pegar seu número.

  Foi só no dia seguinte, depois de acordar na delegacia com uma dor de cabeça terrível, que se lembrava vagamente da menina. Droga, podia ter pegado o número dela, apesar de não lembrar muito do que falaram na noite anterior – sabia, ao menos, que ela era legal. Seu irmão mais velho pagou a fiança com cara feia e o arrastou pro carro, a caminho de casa para algum sermão que seria abafado depois por perguntas de como foi a noite. Queria lembrar. E de tanto querer lembrar, lembrou-se que tudo que havia no bolso era a resposta para os fragmentos perdidos da noite: tirou de lá um celular com capinha cor-de-rosa. Estava bloqueado com senha, mas nas notificações recentes era possível ler algumas mensagens. Perguntas de "onde você está?", imagens e uma mensagem de algum tal de Lucas com um "não", com direito a ponto final.

Sujeito grosso, pensou Lúcio, Deve ser amargurado na vida.

  Esperava que a menina não tivesse feito uma pergunta importante. De qualquer forma, veria se ia conseguir devolver o celular, se ia conseguir encontrar a dona. Aproveitaria para pegar o contato dela, então, e quem sabe chamar para sair mais uma vez.


  Sim, havia sido uma noite bem legal para ele...

365 days writing: A New Year Misery

  365 DAYS WRITING
 #1 DIA: UMA HISTÓRIA/CONTO SOBRE UM PERSONAGEM NA VIRADA DE ANO

- Renèe, 1 de janeiro de 2018

  No começo pensei que as luzes do farol do carro em meio a escuridão da estrada fossem ser minha única companhia nesta virada. A lua, as estrelas e as luzes desta acolhedora cidade me presentearam conforme eu sentia o acelerador sob meu pé.

  Esta noite o céu está limpo, aliás. Mesmo dentro da cidade consigo vislumbrar com clareza diversos pares de estrelas, constelações perdidas em lembranças e uma grande, brilhante e divina lua cheia. Lua minha, lua dele. Ainda depois de tudo eu sentia-me aquecida por suas memórias, como se estas fossem fonte interminável da minha energia.

  É a primeira vez que passo uma virada de ano sozinha. É tudo muito poético, tudo tão lindo, no entanto tão solitário. Sinto saudades de casa, de meus gatos e da família que deixei na cidade grande. Espero que estejam bem e entendam que mesmo hoje preciso terminar meu trabalho. Gostaria de ter trago alguém, no entanto: mesmo que seja egoísta querer compartilhar desta solidão, tenho a impressão que ele se sente só mesmo cercado das luzes deslumbrantes do dinheiro.

  A solidão já é algo com o que estou acostumada, sim, mas ver os fogos sozinha não foi algo que me agradou. Me fez pensar no futuro, no passado, no que estava havendo com minha vida em todos os aspectos mais sombrios. Me fez chorar, por um breve segundo – chorar por dentro. E então eu engoli todos os sentimentos que me atacaram ao olhar novamente para a lua, minha lua. E ela sorriu de volta para mim, em meio a uma nuvem passageira.

  Era ano novo, lembrei-me então, um ano novo com lua cheia!

  E eu senti a energia voltando a mim. Eu senti o que eu era, o que eu queria e tinha que ser. Enterrei o lamento mais uma vez e abri meu coração para o amor fluir novamente, e voltei a conversar com a lua. Conversei com ela sobre meus sentimentos, sobre meu amado, sobre minhas expectativas. Eu acho que ela ouviu tudo, mesmo em meio aos barulhos das comemorações.

  Depois de tudo isso, sai do carro e sentei na praça para comer algum lanche e olhar as pessoas se divertirem de branco. Era uma cidade pequena e boa parte estava em casa, cuidando de sua própria familia e ceia, mas aqueles que deixaram-se perder pela diversão se juntavam em um único lugar para dançar e beber. Mesmo quando entrei novamente no carro, ainda festejavam com seus copos cheios de emoções vazias.


  Eu sei que sou a mesma do outro ano, de horas atrás. Mas me sinto segura ao menos uma vez – segura por ter tentado, segura por ser quem sou.