Sou apenas um pedaço de poeira no ar
indigna até mesmo de ouvir um pássaro cantar
Sou aquela figura que um dia se jogará no mar
incapaz de um homem, verdadeiramente, amar.
Meus olhos são assustadiços e cegos
firmes, mas tristes e vazios
e apesar da cegueira observam a todos de um canto frio
Meus dedos são ageis e ligeiros
e nada conseguem pegar
mesmo que para puxar para mim o mundo estejam ansiosos
só me servem para desejar
Meus lábios são vermelhos
murmuram palavras para te fazer se aproximar
mas eles não alcançam seus olhos
e só me sobra lamentar
Atrás da face de Clara me escondo
Assim nenhum espelho me mostrará a alma
ferida, incompleta, abandonada
E assim ninguém saberá qual foi meu crime hediondo
Meu coração, ah, meu coração já foi firme e forte
e agora está a deriva naquele mesmo mar onde tantas outras tentaram se matar
Mas eu não quero me matar
O que eu quero é te alcançar
E abandonada nessa carteira rabiscada,
um chiclete sem gosto e mais nada,
lembro de sua voz e da minha fala embargada.
Por que me esqueceu, meu amigo?
Meus dias se resumiam a você, Higor,
e agora mesmo tão perto, te sinto tão longe,
como se algo em mim fosse desvanecer
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