segunda-feira, 24 de março de 2014

For H

 Sou apenas um pedaço de poeira no ar
 indigna até mesmo de ouvir um pássaro cantar
 Sou aquela figura que um dia se jogará no mar
 incapaz de um homem, verdadeiramente, amar.

 Meus olhos são assustadiços e cegos
 firmes, mas tristes e vazios
 e apesar da cegueira observam a todos de um canto frio

 Meus dedos são ageis e ligeiros
 e nada conseguem pegar
 mesmo que para puxar para mim o mundo estejam ansiosos
 só me servem para desejar

 Meus lábios são vermelhos
 murmuram palavras para te fazer se aproximar
 mas eles não alcançam seus olhos
 e só me sobra lamentar

 Atrás da face de Clara me escondo
 Assim nenhum espelho me mostrará a alma
 ferida, incompleta, abandonada
 E assim ninguém saberá qual foi meu crime hediondo

 Meu coração, ah, meu coração já foi firme e forte
 e agora está a deriva naquele mesmo mar onde tantas outras tentaram se matar
 Mas eu não quero me matar
 O que eu quero é te alcançar

 E abandonada nessa carteira rabiscada,
 um chiclete sem gosto e mais nada,
 lembro de sua voz e da minha fala embargada.

 Por que me esqueceu, meu amigo?
 Meus dias se resumiam a você, Higor,
 e agora mesmo tão perto, te sinto tão longe,
 como se algo em mim fosse desvanecer

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